sexta-feira, 3 de julho de 2020

Após repercussão, bares se unem para evitar aglomerações: 'Precisamos mudar de denunciados para denunciantes'

Primeiro dia da abertura de bares e restaurantes na cidade. Bar na rua Dias Ferreira, no Leblon, na Zona Sul do Rio
Primeiro dia da abertura de bares e restaurantes na cidade. Bar na rua Dias Ferreira, no Leblon, na Zona Sul do Rio Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo
Lucas Altino e Marcelo Antonio Ferreira
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Na primeira noite de funcionamento de bares e restaurantes no Rio durante a pandemia, nesta quinta, cenas de aglomerações nas calçadas, principalmente no Leblon, chamaram a atenção e geraram diversas críticas. Por isso, donos de estabelecimentos se reuniram na manhã desta sexta e decidiram que precisam mudar suas imagens de "denunciados" para "denunciantes", ou seja, auxiliar a prefeitura com denúncia de aglomeração na porta de seus bares. Já a Guarda Municipal e a Vigilância Sanitária prometeram aumentar a fiscalização nesse final de semana.
Na reunião virtual organizada pela pelo Sindicato de Bares e Restaurantes do Rio (SindRio), que representa 10 mil bares e restaurantes da cidade, houve 180 participantes. A agenda era o esclarecimento de dúvidas sobre procedimentos de higiene e mudanças de decreto e legislação da prefeitura. Mas o ponto principal acabou sendo como evitar as aglomerações e os consequentes prejuízos sanitários e econômicos para o setor.
— A tônica foi mudar nossa imagem. Precisamos passar de agente denunciado para agente denunciante — afirmou Alexandre Serrado, presidente do Polo Gastronômico do Jardim Oceânico, dono do Bar da Lapa e conselheiro do SindRio. — Acho que precisamos usar o disk aglomeração também. Se está tumultuando na porta dele, o comerciante tem que chamar a polícia, a prefeitura e mandar para a imprensa. E mostramos nosso interior, com o protocolo respeitado.
A noite de quinta foi de aglomerações pontuais. Regiões tipicamente boêmias, como a Lapa e o Buxixo, na Tijuca, não tiveram aglomeração. Por outro lado, houve muita gente em bares e calçadas na Rua Dias Ferreira, no Leblon, na Rua Hilario Gouveia, em Copacabana, e em vários bairros da Zona Oeste, como Recreio e Padre Miguel.
Praça no Leblon ficou lotada até tarde na primeira noite de abertura dos bares
Praça no Leblon ficou lotada até tarde na primeira noite de abertura dos bares Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo
Para Serrado, o problema no "Baixo Leblon", como são chamados os bares da Rua Dias Ferreira e Praça Cazuza, foi intensificado pela venda de cervejas em bancas de jornais e camelôs. Ao longo da noite de quinta, muitas imagens de uma pequena multidão na região tomaram a internet. A Guarda Municipal esteve no local e pediu inclusive para alguns estabelecimentos fecharem mais cedo, de forma a evitar aglomerações nas calçadas, como foi o caso do Stuzzi e Belmonte. A Guarda, porém, informou que os bares não cometeram infrações.
— No Baixo Leblon, foi um camelódromo ao ar livre, e isso vai acontecer em outros lugares. Nós podemos parar de servir quem está em pé, mas não temos controle se a pessoa compra cerveja em outros locais, pois a calçada é espaço público — diz Serrado, que fechou três estabelecimentos durante a pandemia. — É muito triste a situação. A cidade está perdendo bares de gerações. Mas queremos reabrir de forma segura. Corremos risco grande, porque estamos renegociando fornecedores, reconvocando funcionários, investindo em higienização e, daqui a 10 dias, se a curva piorar, podemos ter que fechar de novo.
Em um dos vídeos que circulou na internet denunciando a aglomeração no Leblon, é possível ver os clientes do bar Boa Praça sem máscara. Flávio Sarahyba, um dos sócios do estabelecimento, se defendeu e disse que adotou todos os protocolos sanitários que podia, como trabalhar com 50% da capacidade, profissionais equipados, medição de temperatura na entrada, cujo acesso só é permitido a quem tiver com máscara.
— É muito delicado para mim. Eu posso pedir para eles usarem máscara dentro do estabelecimento, mas também entra a questão do carioca com cidadania e consciência. Por mais que eu condicione a entrada com máscara, muitos deles tiram quando estão do lado de dentro. É complicado — diz o empresário. — Eu não tenho como criar mais nenhum tipo de procedimento, porque eu já fiz tudo. A única coisa que falta é a insistência para o público usar máscara, que é isso que, a partir de agora, vamos aumentar o tom, mas é super complicado. É muito mais uma questão de consciência da população do que iniciativa minha.
Aglomeração na porta de bares do Leblon ocupou até a pista de carros nesta quinta
Aglomeração na porta de bares do Leblon ocupou até a pista de carros nesta quinta Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo
De acordo com Sarahyba, o público aglomerado na área externa do bar, para fora do cercado, não estava consumindo no estabelecimento. Essas pessoas teriam comprado bebida na banca de jornal ou direto com vendedores ambulantes.
— As pessoas não podiam estar estimulando esse tipo de aglomeração agora. Se os bares e restaurantes não estivessem atendendo nas ruas, como é que as pessoas iam se aglomerar em frente aos bares? Elas ficam ali porque tem uma geladeira e cerveja gelada.
Em nota, o SindRio afirmou que é "absolutamente contra a aglomeração de pessoas" e que o que se viu nesta quinta "não corresponde ao trabalho sério e comprometido de todos os empresários que abriram suas portas para receber seus clientes, dentro da legalidade, e com todos os protocolos ainda mais rígidos de higiene e de distanciamento". O sindicato ainda diz que a classe "não pode ser prejudicada pela falta de cooperação de uma pequena parcela da população, estimulada ainda pela presença ilegal e maciça de ambulantes e bancas de jornal abertas vendendo cervejas sem qualquer fiscalização".

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Já a prefeitura prometeu intensificar a fiscalização nesse fim de semana, com a Guarda Municipal e Vigilância Sanitária. A Guarda Municipal disse que já registrou 843 infrações sanitárias entre os dias 5 e 30 de junho. Já a Vigilância Sanitária informou que já fiscalizou 5 mil estabelecimentos, o que resultou em 2.374 multas por funcionamento dos estabelecimentos em desacordo com as regras.

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